criação e criatura
O desafio cria e instiga criaturas (des)conhecidas. Onde habitavam antes de despertar?
Tati Klebis
Eu crio, tu crias; eu quero, tu querias. Sem magia, criar é sofrer. Criar é se entregar sem nada ter, se expor bem antes de estar, não ser. Criar é um estado de desamor, afinal, criamos pra quê, a quem? Muito mais fácil protocolar do que criar pra depois ficar sem. Mudam tudo, entendem errado, descompreendem aquele óbvio que mora dentro da gente.
Criatividade é criatura que a gente solta e atura, revela e se arrepende, mas nunca, nunca se desprende. Perguntam sempre se aquilo é a gente. É a gente? É parte da gente, embrião, semente: “adenina, citosina, guanina e timina covalentemente ligadas a uma coluna vertebral de fósforo”. Simples. Mas tem vida própria.
Personagem a gente cria mas não paga estudo. Personagem cresce mas a gente não compra roupa nova. Personagem tem uma vontade própria que é a vontade da gente, mas personagem é personagem e a gente é a gente.
Criação é indigente. Depende do indivíduo, da vida, da lida. Dos entendimentos, do que leu, apanhou, testou, viajou, estudou. Criação é bagagem. É saber puxar um arado, mesmo sabendo que aquilo nunca lhe servirá; só apanha centeios no campo quem algum dia arou um verso. Criar desgasta. A gente se obriga, se rasga, se esfola em uma folha vazia. Somos a heresia. Criatividade vende e decola, criação ninguém entende e não se ensina na escola. Criação e criatura é clichê. Criatividade é vaidade e dublê. Tudo que a gente escreve é vivência, repertório e cultura. Abaixo a ditadura.
Migrei de ventos em intenções. Já fui pedra, já fui projetor em tela, já inventei emoções que vendessem intenções. Quase fui lucro mas me tornei em juízo.
O nariz vermelho que brotou dentro de mim nunca haverá de esvair-se. Palhaço não estou, mas sou. Porém a escrita me consome em frente e em verso. Me defino um retrocesso. E tenhas aqui meu ingresso.
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One Comment
MARIZE COELHO ARANTES
Lindo demais Marcos!!!! Quando você se descreve foi maravilhoso!